domingo, 21 de abril de 2013

Bela adormecida




Deitada em seu quarto, despertara abruptamente com uma briga entre cachorros que findará cinco minutos após ela ter acordado. O sono já não lhe fazia mais companhia, e, então sem querer levantar e sem poder dormir, ficou a fitar o teto, como se esperasse que o mesmo lhe tivesse alguma grande revelação a fazer. Ele revelará apenas algumas infiltrações e rachaduras que passavam despercebidas no dia-a-dia, mas nada além disso, nada. Passou a observar as paredes azuis, os quadros dependurados, o guarda-roupas, a penteadeira, a roupa jogada sobre a cadeira, os sapatos ao lado da cama. Aquela pequena atmosfera era tão calma quanto ela, tão simples, que parecia possível fundirem-se nos pensamentos, em pequenos atos cotidianos de cumplicidade. Os espelhos conheciam melhor do que ela o seu corpo, os traços de seu rosto, as lágrimas em que algumas vezes seus olhos se afogaram... aquele olhar e o sorriso de quando colocava um batom vermelho nos lábios sabendo que iria beijar. No entanto, o mais aterrador foi quando percebera que gostaria de partilhar seu pequeno universo, pois, sabia que ainda tinha muitos segredos a revelar, até mesmo para os seus cúmplices inanimados...outras curvas, risos, penteados, novas músicas, outros livros. E então, voltou seu olhar novamente ao teto, e deu um sorriso maroto, aquele concentrado no canto da boca, como quem diz: pode esperar! Fechou os olhos e caiu em um sono tranquilo, daqueles que só os tem quem consegue sonhar acordado.

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